Talvez a pergunta que eu mais escuto quando eu conto o que eu faço é: “Mas por que você escolheu se especializar em luto?” Eu entendo, morte não é um tema comum que as pessoas costumam falar abertamente. Logo se muda de assunto, “bate na madeira” para não atrair. Fazemos de tudo para deixar a morte bem longe, até que ela aparece bem na nossa cara, sem pedir licença.

Em 2013, meu pai foi diagnosticado com um câncer, na época eu estava no final da minha graduação em Psicologia. Minha rotina passou a ser acompanhá-lo em consultas, tratamentos, cirurgias e internações. Era uma luta diária e desgastante. Porém, foi uma experiência que me fez olhar de forma diferente para a finitude, para a morte e o morrer, e para o luto.

Esse foi o primeiro impacto que senti: perceber que eu estava praticamente formada sem ter tido conhecimento nenhum nessa área, não tive disciplinas, aulas, estágios, nada! Meu pai morreu em 2015, mas fez nascer dentro de mim esse propósito de mudar este cenário, de abordar o tema da morte e luto com mais sensibilidade, de forma aberta e acessível.

Desde então, eu já fiz diversos cursos, coordenei vários grupos de apoio, dei várias palestras, aulas e entrevistas. Mas o principal de tudo isso é que eu tive a oportunidade de atender inúmeros pacientes enlutados e compreender melhor como lidar com as suas demandas de maneira sensível e acolhedora. Obviamente, não há uma receita de bolo para lidar com algo tão complexo como o luto, mas há sim, pontos importantes a serem observados nesse processo que fazem toda a diferença!